O monumento mais distinto da freguesia de Arcos é a sua ponte de tipologia românica, conhecida por “Ponte de São Miguel de Arcos” ou, mais simplesmente, “Ponte de Arcos”.
A ponte é constituída por três arcos de volta perfeita e de dimensões variáveis. O perfil em cavalete acentuado faz com que o arco central seja consideravelmente mais alto do que os laterais. Entre os arcos, possui dois talhamares triangulares a montante e dois contrafortes retangulares a jusante. No tabuleiro pode-se verificar a existência de pequenas guardas construídas no século XIV.
Não se sabendo a data exata da sua construção, terá provavelmente recebido a sua grande remodelação ou reconstrução no período tardo-medieval e terá hipoteticamente substituído a que deu o nome à freguesia. Esta conjetura encontra paralelismo com a do local mais eminente que adquiriu este topónimo: Arcos de Valdevez deve, também em teoria, o seu topónimo à antiga Ponte da Vila, também medieval, demolida no século XIX para dar lugar à atual1: a ponte de arcos do vale do rio Vez.
A inscrição “FOI FEITA EM 1144”, gravada num silhar de um dos peitoris da ponte, não é coeva e não tem fundamento material ou documental, sendo possivelmente gravada durante uma das várias pequenas obras de reparação executadas no século XX2. Nada impede, no entanto, que a ponte atual apresente vestígios do reaproveitamento de construções anteriores. O valor de 40 soldos, necessário para a construção dos peitoris de pedra, foi deixado em testamento por Rui Martins Boilouro, cavaleiro da Maia, em 1347. Serão ainda estes os que se podem observar, com as necessárias reparações ao longo dos séculos, que nos meados do século XX tiveram um aumento de altura com a construção de pequenas estruturas de metal e arame, posteriormente removidas.
Sabe-se que já no século XI esta localidade tinha a mesma designação e orago, sendo inscrita no Censual de Entre Lima e Ave sob o número 37 (Sancto Micahel de Arcos), o que deverá indicar que já aí existiria a ponte que deu o nome à futura freguesia.
Já no período tardo-medieval, esta ligação entre as margens do rio Este faria parte do principal Caminho de Santiago de proveniência portuguesa, designado por via veteris ou karraria antiqua, facilitando o percurso do troço entre o Mosteiro de São Simão da Junqueira e o Mosteiro de São Pedro de Rates. Com o rejuvenescido interesse pelos Caminhos de Santiago, motivado não só pela vertente religiosa mas também pelo interesse no turismo de natureza, a ponte é atravessada anualmente por vários milhares de peregrinos.
Do lado sul, à entrada da ponte, foi erigido a 8 de Novembro de 1908 um padrão de homenagem a José Fernandes de Faria Machado, Visconde de Faria Machado. Este benemérito arcoense, emigrado no Brasil, patrocinou a construção do troço de estrada que ligava Arcos à mais próxima estação de caminho de ferro, nas Fontainhas. Na inscrição, bastante desgastada e quase impercetível, ler-se-ia: “Esta estrada construiu-se a expensas do Ex.mo Sr. Visconde de Faria Machado – 1908 – Homenagem da freguesia de Arcos”.
A ponte românica de Arcos, desgastada durante décadas pelo trânsito rodoviário, viu-se finalmente desafogada desta contínua degradação em 2018, sendo convertida em pedonal, aquando da inauguração da nova ponte sobre o Este, situada a poucas dezenas de metros para montante.
- Ponte Velha de Arcos de Valdevez
- Aníbal Soares Ribeiro – Pontes Antigas Classificadas (p.141)