História

O povoamento de Vila do Conde tem uma longa história, que pode ser comprovada pelas mamoas e antelas encontradas no concelho, datados de cerca de 5000 a.C. a 3000 a.C. Bem antes desse tempo, a zona da actual Vila do Conde já teria sido percorrida por povos nómadas, que por cá deixaram seixos e picos, os quais devem provir do período Paleolítico (c. 10000 a.C).

O mais antigo documento que se refere à “Villa de Comite” data do século X, mais precisamente do dia 26 de Março de 953 da era de Cristo, e é uma escritura de venda por parte de Flamula Pelagius (Chamoa Pais) ao abade Gonta e seus irmãos e irmãs do cenóbio de Guimarães. Dessa venda fazem parte duas villas; a Villa de Comite (futura Vila do Conde) e a Villa Quintanella (actual lugar de Quintela, Argivai, Póvoa de Varzim). Para além destas, há também referência a confrontações com outras villas, nomeadamente a Villa Fromarici (lugar de Formariz, Vila do Conde), Villa Euracini (Póvoa de Varzim), Villa Tauquinia (Touguinha), Villa Argevadi (Argivai) e Villa Anserici (também em Argivai).
Este documento ajuda-nos a reconstruir a história de Vila do Conde nos séculos anteriores, ainda que com alguma margem de erro.

Depreende-se que haveria um “Castro de São João“, no monte da margem norte do rio Ave, onde se situa actualmente o edifício do extinto Mosteiro de Santa Clara. Esta povoação castreja teria origem na ocupação celta (povos indo-europeus) da Península Ibérica, durante a Idade do Ferro. O castro teria já, à data da escritura, uma igreja dedicada a São João Evangelista, construída após a ocupação sueva (século VI), provavelmente no período do primeiro Condado Portucalense. Os próprios suevos, no concílio de Lugo de 569, referiam a existência do castro aquando da divisão do seu reino em paróquias e dioceses. A diocese de Braga teria o seu limite a sul “seguindo o rio Ave até ao castro”. Tais delimitações foram registadas no “Parochiale Suevorum” e reproduzidas no “Liber Fidei” do arcebispado de Braga.

No século XI, em 1059, ainda estava a Villa de Comite na posse do Mosteiro de Guimarães, pelo que se lê no seu inventário dos bens e igrejas, transcrito por Alexandre Herculano no séc XIX. Desse inventário, consta a primeira referência a outro monumento religioso: a “heremita Sancti Juliani Martyris”, no local onde hoje se encontra a Capela de Nossa Senhora da Guia.

Algures no século XII, “Meem Paaez Bofinho”, o Conde D. Mendo Pais Roufino de Azevedo, terá administrado esta povoação. Tal facto carece de provas documentais, ainda que o Conde D. Mendo tivesse sido associado à fundação de Vila do Conde durante vários séculos. Tal história foi possivelmente perpetuada de geração em geração pelas memórias colectivas das pessoas de Vila do Conde, apoiadas na lenda do Conde que viveria em Azurara. Como referimos, já há mais de dois séculos Flamula Pelagius apelidava a zona a norte do rio Ave de “Villa de Comite”. A origem do nome de Vila do Conde estará muito provavelmente relacionada com um ascendente de Flamula, um dos vários condes presores da Reconquista Cristã da sua progénie, entre os séculos IX e X.

Nos primeiros anos do século XIII, D.Sancho I de Portugal cedeu as terras à sua amante, D. Maria Pais da Ribeira, a Ribeirinha, e seus filhos.

Uma sua tetraneta, D. Teresa Martins, e seu marido, D. Afonso Sanches, filho ilegítimo do rei D. Dinis, fundariam em 1318 o Real Mosteiro de Santa Clara, ainda hoje símbolo da cidade e onde se encontram os túmulos dos fundadores.

Algures na segunda metade do século XIV, o senhorio foi transferido para o Mosteiro, cabendo a este a jurisdição cível e crime, dando-lhe um enorme poder político e financeiro a nível local.

Pelo facto de possuir uma posição geográfica adequada, Vila do Conde teve um papel preponderante durante toda esta época dos Descobrimentos. Enquanto que, no período medieval, as maiores fontes de rendimento procediam das salinas e actividades piscatórias, uma outra ocupação teve um crescimento exponencial nesta época: a construção naval. Vila do Conde aproveitou as necessidades inerentes à expansão marítima, nomeadamente da produção de novas embarcações e velames. A actividade dos estaleiros de construção naval estendia-se um pouco por toda a margem do rio Ave.

D. Manuel, rei de Portugal na transição entre os séculos XV e XVI, visitou Vila do Conde no decorrer de uma peregrinação a Santiago de Compostela. Tal acontecimento marcaria o futuro próximo da localidade.

Com o apoio de D. Manuel, iniciou-se a construção da Igreja Matriz e novos Paços do Concelho. O centro da cidade transferiu-se da “Praça Velha“, actual Largo Antero de Quental, para a “Praça Nova”, actual Praça Vasco da Gama, e novos acessos foram criados para conectar este novo pólo à zona ribeirinha. Também do século XVI datam as capelas de Santo Amaro e São Roque.

Entretanto, a 10 de Setembro de 1516 foi emitido o Foral Manuelino, estabelecendo os direitos e deveres do município e regulando os tributos a pagar seu donatário. No caso de Vila do Conde, o Mosteiro de Santa Clara.

No século XVII, é de notar a construção do Forte de São João Baptista, ainda que as obras tenham início no século anterior e apenas terminado definitivamente no seguinte. A Capela do Socorro também foi erguida no início neste século, tal como a Capela de São Bento.

No início do século XVIII, mais precisamente em 1714, terminou a construção do Aqueduto, que ligava uma fonte situada na localidade de Terroso ao Mosteiro de Santa Clara, num percurso de cerca de 6 kms.

Em 1793 foi inaugurada a presumível primeira ponte sobre o Ave, baptizada de Ponte da Nossa Senhora das Neves, a qual durou apenas 28 anos. Até lá, a ligação entre as duas margens do rio era exequível por intermédio de uma barca, posse do Mosteiro de Santa Clara.

Já no século XIX, a rápida evolução da vila é notória, não só dentro dos antigos limites geográficos do concelho, onde se abre a Estrada Real e novas artérias de comunicação com a beira mar (bairro balnear), mas também pela enorme expansão desses mesmos limites, ao anexar Azurara (vila e concelho independente até então) e várias freguesias que pertenciam a concelhos vizinhos, nomeadamente a Barcelos, Famalicão, Maia, Póvoa de Varzim e Bouças (Matosinhos). Nos últimos meses do século foi aberto ao público o Teatro Affonso Sanches.

O século XX foi, em todo o mundo, uma época de grande desenvolvimento em todas as áreas, ao qual Vila do Conde não foi exceção. Novas ruas e avenidas, edifícios e eventos transformam o horizonte da futura cidade. De notar, a nível cultural, a construção do Cine-Teatro Neiva e a remodelação da Casa dos Vasconcelos, para ali ser criado o Auditório Municipal. Milhares e milhares de pessoas são atraídas anualmente pelo Circuito Automóvel, pela Feira Nacional de Artesanato e pelas Curtas Vila do Conde. Em 1987, foi aprovada a elevação de Vila do Conde a cidade. Os estaleiros de construção naval, que por vários séculos dominaram a margem norte do rio, foram transferidos para Azurara, na margem sul.

Dos escassos anos do século XXI já há muito para contar. Vila do Conde foi escolhida como uma das cidades inseridas no programa Polis. A frente atlântica foi renovada, criando-se uma ciclovia que, desde o Forte, se prolonga para norte fundindo-se com a da Póvoa de Varzim. O número de estacionamentos multiplicou, apesar de a circulação automóvel pela marginal, entre o Forte e a Praia de Banhos, ter sido terminada. Nessa zona, promove-se a protecção das dunas entre as praias e a área edificada. Na zona ribeirinha, foi construído um pequeno porto para barcos de recreio, adjacente a um dos novos símbolos da cidade: a Nau Quinhentista. O Cine-Teatro e a Alfândega Régia têm profundas intervenções e (re)abrem ao público. Vila do Conde tem agora lugar no Guiness, pela produção da maior renda de bilros do mundo. Inicia também um projecto que tem em vista a candidatura a Património Cultural Imaterial da UNESCO: a construção naval em madeira, arte milenar, é a base do projecto “Um Porto para o Mundo“.

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