
O primeiro e único Visconde de Faria Machado, José Fernandes de Faria Machado, nasceu na freguesia de Arcos no dia 11 de Novembro de 1848, filho de José Fernandes (nascido na Apúlia) e Maria Helena de Faria Machado (nascida em Barcelinhos), ambos casados em segundas núpcias e residentes no lugar de Gifonso.
A sua vida passa-se maioritariamente no Brasil, para onde emigrou muito jovem, tal como muitos outros vilacondenses, com apenas 13 anos1. A opção de procurar trabalho no Rio de Janeiro foi seguida pelos seus irmãos Manoel e António. O primeiro teve um percurso de vida semelhante à do futuro Visconde, tendo sido inclusivamente seu sócio. O segundo faleceu no Rio com apenas 18 anos, vítima de varíola2. O futuro Visconde começou a sua vida laboral na firma António Dias Guimarães & Cª, à Rua do Mercado nº 19, onde viria a passar o maior tempo da sua vida como empresário3.

A 1 de Novembro de 1874, após mais de uma década emigrado e de trabalhar ultimamente em nome próprio, constitui a sua primeira sociedade com Albino José Ribeiro, a Machado & Ribeiro, na Travessa do Rosário nº 64.
Nos últimos dias de 1875 assina um contrato comercial com António José Ribeiro, que substitui o seu irmão. A firma Machado & Ribeiro, baseada no Rio de Janeiro, especializa-se no comércio de mantimentos e carne seca5. A sociedade termina amigavelmente a 31 de Outubro de 1878, tendo reentrado Albino José Ribeiro como sócio e o irmão do futuro Visconde, Manoel Fernandes de Faria Machado, como interessado6.
Naturaliza-se brasileiro no final do ano, a 14 de Dezembro de 18787.
Casou-se no Rio de Janeiro com Maria do Carmo Ferreira, também arcoense, a 5 de Setembro de 1881. O casal teve oito filhos.
Em 1881 é sócio da empresa Domingos de Souza Andrade e Cª, sediada na Rua do Calimbá nº 2 (atual Rua Dr. Paulo César) em Niterói89. Permanece até 19 de Outubro de 188310.
No primeiro dia de 1884, José Fernandes de Faria Machado volta à rua do Mercado nº 19, para se associar a Francisco José Leitão e José da Cunha Santos, fundando a Leitão, Machado & Santos. A empresa especializava-se nas áreas de compra e venda de carne seca, toucinho, fumo, açúcar, mantimentos, molhados e receberem géneros à consignação11. José da Cunha Santos falece a 3 de Fevereiro de 1886, passando a firma a designar-se Leitão, Machado & Cª, já com o também arcoense José da Silva Meira a interessado desde o início do ano.
No final do ano, o seu conterrâneo José da Silva Meira torna-se no terceiro sócio da empresa Leitão, Machado e Cª, para comércio de carne seca, mantimentos e vinhos12.

Francisco José Leitão falece a 12 de Novembro de 188813. No dia seguinte, a firma é renomeada Machado, Meira & Cª14, designação que perdurou até ao seu final.

A partir de 1889 entram e saem novos sócios, familiares e ex-empregados, ate à sua insolvência em 1914, tendo entretanto mudado a sua sede para duas portas ao lado, na Rua do Mercado nº 23.

“A Noite” nº 795, de 29-01-1914
Foi durante pouco tempo, já no início do século XX, um dos proprietários do antigo Teatro Sant’Anna15, atualmente o Teatro Carlos Gomes, conhecido pela tentativa de assassinato do Imperador D. Pedro II, ocorrido a 15 de Julho de 1889.
Participou ativamente em várias associações, tais como a Real Sociedade Club Gymnastico Portuguez, a Imperial e Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte do Carmo, e lojas maçónicas relacionadas com o Grande Oriente do Brasil.
Recebeu do Rei D. Carlos de Portugal o título de Visconde de Faria Machado, por carta régia de 16 de novembro de 190516.

Regressado a Portugal, foi um importante benemérito para a sua freguesia natal, onde patrocinou a abertura da estrada que liga a ponte românica à antiga estação de caminho de ferro das Fontainhas. Foi nesse troço que comprou um terreno onde se incluía uma residência deteriorada, que acabou por demolir para construir a sua casa, datada de 1908, que ainda hoje se pode visualizar sem alterações, incluindo a coroa de visconde no frontão da fachada principal.

A 8 de Novembro de 1908, foi alvo de uma manifestação pública de apreço à sua “elevada benemerência, patriotismo e altruísmo, que d’um humilde filho do povo o fizeram um nobre titular”17. Um grupo de arcoenses foi surpreendê-lo a sua casa, com pompa e circunstância que incluiu uma banda de música, transportando-o até à Ponte de São Miguel de Arcos, onde aí se inaugurou o padrão. Este padrão mantém-se. mas a seguinte inscrição é hoje pouco percetível: “Esta estrada construiu-se a expensas do Ex.mo Sr. Visconde de Faria Machado – 1908 – Homenagem da freguesia de Arcos”. Para além da estrada, foi também responsável pela construção da escadaria exterior da Igreja e pela compra do seu relógio18.

Faleceu a 11 de Junho de 1911, na sua residência da Rua Bento de Freitas em Vila do Conde (troço em 1981 renomeado Av. Dr. Artur da Cunha Araújo), ao lado da Escola do Conde de Ferreira 192021, vítima de “sofrimentos cardíacos e reumáticos”22.
- Correio do Ave nº 118 – 2ª série (18/06/1911)
- Diário do Rio de Janeiro nº 336 (5 de Dezembro de 1870)
- Correio do Ave nº 118 – 2ª série (18/06/1911)
- Jornal do Commercio, ano 53 nº 349 (17/12/1874)
- A Nação, ano 5 nº 1 (3/1/1876)
- Jornal do Commercio, ano 57 nº 318 (14/11/1878)
- Monitor Campista, ano 41 nº 288 (19/12/1878)
- Jornal do Commercio, ano 60, nº 159 (9/6/1881)
- Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro nº 39 (1882) p.1696
- Jornal do Commercio, ano 62, nº 292 (20/10/1883)
- Gazeta de Notícias, ano 10, nº 3 (3/1/1884)
- O Paiz, nº 891 (15/03/1887)
- Gazeta de Notícias, ano 14, nº 318 (14/11/1888)
- Jornal do Commercio, ano 14, nº 320 (16/11/1888)
- José Dias – Teatros do Rio do século XVIII ao século XX p.136
- Nobreza de Portugal e Brasil vol. 2 (1989) p.576
- O Villacondense nº 411 – 13/11/1908
- Manuel Fernandes Soares Pinho – Nos 150 anos da Igreja Paroquial de S. Miguel de Arcos – Vila do Conde – pp. 57, 61, 131
- Carlos Ouvidor da Costa – Caderno da Cultura do Jornal de Vila do Conde, 23/02/1989
- Marta Miranda – O Bairro Balnear (2016) p.63
- Este troço foi em 1981 renomeado Av. Dr. Artur da Cunha Araújo. A Escola do Conde de Ferreira é atualmente a Junta de Freguesia de Vila do Conde. Por estes anos existia um caminho, que vinha desde Santa Catarina, a separar a escola da casa que foi demolida nos primeiros anos da Terceira República Portuguesa para dar origem a um prédio de apartamentos. Esse caminho era frequentemente tornado um lamaçal pelas águas pluviais, associadas às águas do ribeiro que também vinha de Santa Catarina. O ribeiro passava no sítio onde se pode observar um tanque público, na Rua Dr. António José de Sousa Pereira, atravessando campos que deram origem à Alameda dos Descobrimentos (lado nascente), indo finalmente desaguar na doca.
- Illustração Villacondense nº 18 (Junho de 1911) p. 7