No ano de 1987, o Ginásio Clube Vilacondense, já bem estabelecido e com diversas modalidades, organizou uma prova de motonáutica, a contar para o Campeonato Nacional desta modalidade.
“MOTONÁUTICA EM VILA DO CONDE
No próximo domingo, 24 do corrente, as águas do rio Ave vão agitar-se com uma competição desportiva diferente de todas as muitas que ao longo dos anos ali têm decorrido. Trata-se, com efeito, da primeira prova de motonáutica a ter lugar em Vila do Conde e que decorrerá na zona compreendida entre a ponte rodoviária e os estaleiros.
É o GRANDE PRÉMIO DE VILA DO CONDE/SCOOPY, com organização do sempre activo Ginásio Clube Vilacondense, que conta para o efeito com o apoio técnico da Federação Portuguesa de Motonáutica. A Câmara Municipal e a Fábrica de Chocolates Imperial, S. A., são as entidades patrocinadoras.
A importância da prova pode aferir-se pelo facto de contar para o campeonato nacional.
Já na manhã de domingo «as máquinas» vão evolucionar nas águas calmas do Ave, sujando-as, porventura, mais ainda do que já estão – entre as 11 e 12 horas é o período de treinos oficiais. A partir das 14 horas (devido à maré) têm, então, início as diversas corridas. A anteceder as provas haverá a volta de apresentação.
Está prevista a participação de 25 a 30 barcos, entre os quais os potentes «Catamaran»”.
Informação Vilacondense nº 413 – 21/05/1987
O evento foi um sucesso de afluência, constatando-se isso pela quantidade de público espalhado pelas margens e até mesmo na ponte. Apesar disso, a motonáutica não mais voltaria a Vila do Conde, provavelmente pelas razões que se encontram no extenso artigo da semana seguinte do periódico “Informação Vilacondense”: a proximidade dos estaleiros e seus equipamentos e a curta extensão do circuito.
“MOTONÁUTICA foi espectáculo inédito em Vila do Conde
Uma grande multidão de pessoas emoldurou as margens do Ave, na magnífica tarde de Verão que fez no último domingo, para assistir interessadamente, durante 3 horas, a uma competição desportiva inédita entre nós. Concretamente, a motonáutica e o seu «Grande Prémio de Vila do Conde/Scoopy» que, em organização do Ginásio Clube Vilacondense, pela primeira vez se disputou nas serenas águas do rio Ave, entre a ponte rodoviária e a lota. Uma moldura humana como, provavelmente, em nenhuma outra ocasião terá bordejado o «nosso» rio a propósito de qualquer manifestação desportiva, e isto apesar de que em simultâneo se realizava o importante jogo entre o Rio ave e a Académica.
E justo é afirmar que não saiu defraudado tanto interesse do público, curioso ou amante dos «motores». O espectáculo aconteceu, a competição foi empenhada entre os pilotos, em suma, desportivamente, tudo bem, ou quase…
De facto, foi pena o acidente que obrigou à interrupção e anulação da 2ª mão da prova de mais de 850 cm3, motivado pro um grosso cabo que, junto ao estaleiro da Azurara e perto da bóia de rondagem, se terá soltado um pouco ficando mais à superfície, apesar de na parte da manhã, com a maré em baixo, elementos do Conselho Técnico da Federação Portuguesa de Motonáutica que montavam a pista, o terem afundado e amarrado. Daí resultou que 3 barcos ao passarem se «prenderam», sofrendo algumas avarias, tendo mesmo um dos pilotos que receber tratamento hospitalar por ter um corte na língua.
Todavia, com muita rapidez foi tomada a decisão de puxar abaixo (juzante) a bóia de rondagem e de fazer alinhar numa última mão, em simultâneo, os barcos das diferentes categorias, de modo a manter o horário do programa (cumprido quase ao rigor do minuto) e evitar a falta de água quando a maré já descera bastante.
Nem o acidente, nem o único óbice apontado pelos «técnicos» a esta pista do Ave – a sua pouca extensão – tiraram brilho à prova e à excelente organização do Ginásio Clube Vilacondense, de resto, do nível a que o clube já nos habituou.
Evitar qualquer acidente semelhante ao acontecido, bem como aumentar a extensão da pista (da ponte aos assentos seria óptima) só poderá ser conseguido, em favor de Vila do Conde, com maior e melhor colaboração das autoridades marítimas, dado que o rio não pode ser só para a navegação pesqueira. Os desportos náuticos sempre tiveram e têm actualmente mais do que antes uma enorme importância em Vila do Conde.
De resto, para ilustrar as potencialidades da nossa terra também neste aspecto, bastará referir a opinião do Conselho Técnico federativo exprimir a diversas pessoas ao longo da tarde: – «isto é um verdadeiro estádio náutico>.
Como apontamentos finais será de referir que participaram nas provas 17 barcos e que o patrocínio deste G. P. Vila do Conde/«Scoopy» foi da Câmara Municipal e da Fábrica de Chocolates Imperial, S. A., entidades que têm razões para se acharem satisfeitas pela confiança que depositaram na iniciativa do Ginásio Clube Vilacondense.
Para que a «máquina» organizativa funcionasse em pleno e nada faltasse, o clube organizador obteve ainda a colaboração da Capitania do porto de Vila do Conde, dos Bombeiros Voluntários, do Clube Fluvial Vilacondense e do Clube Naval Povoense, além, naturalmente, do apoio técnico da Federação Portuguesa de Motonáutica, que se empenhou em força na concretização e realização da prova, a única deste ano na zona norte-litoral do país e que contou para o campeonato nacional da modalidade.
Para que tudo conste, aqui fica a classificação geral, por classes:
O 2 000, 1º Manuel Alves Barbosa, 2º José Carolo, 3º Fernando Moreira.
T 850, 1º Luís Ribeiro, 2º Jorge Silva, 3º Guilherme Matos.
T 750, 1º Mário Rui Martinho, 2º Marcos Valente, 3º António Duarte.
TN 750, 1º Arménio Leitão, 2º Carlos Almeida, 3º Álvaro Melo.”
Informação Vilacondense nº 414 – 28/05/1987
Assim se conta a breve história da motonáutica em Vila do Conde. Depois deste evento, e provavelmente pelas razões acima transcritas, as provas de motonáutica não mais voltariam a Vila do Conde.