O casamento de Feliciano de Castilho com uma monja de Vairão

Castilho (1836)
António Feliciano de Castilho em 1836

Um resultado curioso do mandato de extinção das ordens religiosas foi decorrente do abandono da vida de clausura por parte de uma das mais ilustres reclusas do Mosteiro de Vairão, Maria Isabel de Baena Coimbra Portugal. Maria Isabel, recolhida no Mosteiro desde os seus onze anos, em 1807, tinha em si uma veia literária, sendo sobrinha-neta do poeta Nicolau Tolentino de Almeida e descendente de António Ferreira, autor da “Tragédia de Inês de Castro”.

Sob o pseudónimo Maria da Expectação Silva e Carvalho, era desde 1824 correspondente da figura de proa do ultra-romantismo português, António Feliciano de Castilho. Trocando cartas progressivamente provocantes, a religiosa desafiou-o a encontrá-la, para que ambos pudessem encarnar as personagens do primeiro romance do poeta, “Cartas de Echo e Narciso”, com inspiração na mitologia grega.

Após vários anos de romance platónico, por intermédio de mais de 700 cartas, o casamento foi acertado ainda antes de se conhecerem pessoalmente, sendo o matrimónio realizado pouco após a extinção das Ordens Religiosas, a 29 de Novembro de 1834, na Igreja de São Bento.

Registo de Casamento de Feliciano de Castilho
Registo de Casamento de Feliciano de Castilho e Maria Isabel Baena (Arquivo Distrital do Porto)

O casamento pouco tempo duraria, visto que Maria Isabel viria a falecer a 1 de Fevereiro de 1837.

A relação viria a ser retratada pormenorizadamente por Feliciano de Castilho numa das suas últimas obras, “A Chave do Enigma”, publicada em 1861.

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