Castro do Boi

O centro da localidade de Vairão situa-se nas imediações do Castro do Boi, referido dezenas de vezes nas transcrições efetuadas por Alexandre Herculano nas Diplomata et Chartae, parte da sua obra Portugaliae Monumenta Historica. A sua relevância documental prende-se com o facto de ser um destacado ponto de referência geográfico e topográfico a sul do rio Ave.

Vairão - Castro do Boi
Vairão – vista do topo do Monte de Santo Ovídio (Castro do Boi)

O Castro do Boi terá sido a edificação que originou o povoamento desta localidade. Com origem na Idade do Ferro, segundo os poucos vestígios arqueológicos encontrados1, a povoação castreja situava-se no monte onde hoje se pode vislumbrar no seu topo a Capela de Santo Ovídio. Por consequência da edificação neste local de pelo menos três capelas ao longo do último milénio (Santa Madalena, Santo António e Santo Ovídio) e respetivos acessos, plantação de árvores de grande porte e construção de várias habitações no sopé do monte, a estação arqueológica encontra-se extremamente descaracterizada. Deste monte foi retirada pedra para construir uma das capelas axiais da Igreja Matriz de Vila do Conde, no início do século XVI2.

A mais antiga referência conhecida data do início do século X, mais precisamente do ano 907 (945 da Era de César), sendo também um dos mais antigos documentos transcritos por Herculano nas Diplomata et Chartae (DC 14), onde Odoário cede à sua irmã Trudilli a villa de Freixeno, topónimo perdido nos dias de hoje, mas cuja localização se situaria entre a Cividade de Alvarelhos e o Castro do Boi (subtus ciuitas albareljos et castro de boue). Atestando a importância deste castro no período medieval, existem mais dois documentos a referi-lo nos vinte e quatro mais vetustos da obra de Herculano (DC 16 e DC 24). Pela sua posição geográfica, próxima de mar e rio, seria provavelmente a fortificação mais relevante a sul do Ave de todo o atual concelho de Vila do Conde.

Capela de Santo Ovídio
Capela de Santo Ovídio, no topo do monte do Castro do Boi

A sua localização e a da Cividade de Bagunte são equidistantes ao rio Ave, sendo natural assumir que seriam estas as duas povoações principais junto à foz. O castro de Santagões e o presumível castro de Olaia, em ambas as margens mais perto do rio, assim como os castros de São João e de Retorta, junto ao rio e bem mais a jusante, pela menor quantidade de vestígios documentais e menor altitude, obedeceriam à hierarquia dos povoados castrejos. Pela mesma ordem de ideias, o Castro do Boi poderia ser um género de posto avançado do povoado de maior dimensão, situado em Alvarelhos, concelho da Trofa.

Outro documento faz, mais próximo ao final do século, a alusão à existência de um castelo no castro (DC 112), o que prova que seria uma estrutura aprimorada com propósito militar.

Carta de Doação da Villa Valeriani – Arquivo Nacional da Torre do Tombo

Neste documento de doação da Villa Valeriani (uilla que dicent ualleriani) também se encontra a mais antiga alusão à existência de uma comunidade religiosa neste local.

Quanto ao seu topónimo, não estará certamente relacionado com qualquer animal de carne e osso. A palavra latina bove ou boue é relativamente frequente no norte da Península Ibérica, desde o Douro Litoral até às Astúrias, originando em muitos casos nomes de terras com os prefixos Boi- ou Bai-. Todas estas terras têm em comum a sua associação a montes ou penhascos, terrestres ou marítimos. Associando esta informação à topografia desta zona, atendendo à proeminência do Monte de Santo Ovídio onde se encontraria o kastrum bove, fica explicada a origem do nome da povoação castreja.

  1. Castro Boi – Portal do Arqueólogo
  2. Eliana de Sousa – Vila do Conde no início da Época Moderna Construção de uma nova centralidade (2003) p.44
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