Bento Rodrigues de Sousa, nascido a 30 de Janeiro de 1853 em Vairão, filho de Manuel Rodrigues de Sousa e Ana Joaquina de Jesus1, foi um empresário que muito jovem emigrou para o Brasil. Com apenas doze anos de idade, em 1865, foi recomendado a um dos seus irmãos mais velhos e negociante já estabelecido na ex-colónia, Boaventura Rodrigues de Sousa2.
Acumulou fortuna por via das suas atividades comerciais, especialmente no município de Santos, estado de São Paulo, onde se destacou na firma Bento de Sousa & Cª3, ao lado dos seus irmãos José Bento e Boaventura. Foi accionista de várias empresas, tais como o Moinho Santista4 e a Companhia Paulista de Estradas de Ferro5.
Regressou à sua terra natal aos 29 anos, ainda que intermitentemente, para tomar conta dos negócios da família nos terrenos da Quinta de Crasto, ou de São Bento, onde o seu recém-falecido irmão José Bento (faleceu a 2 de Fevereiro de 1882) já tinha erguido o palacete em 1880.
A sua chegada dinamizou a propriedade de Vairão, tendo ele motivado a construção de vários outros edifícios nos terrenos herdados, que totalizavam mais de 70 hectares.
A 13 de Dezembro de 1892, foi agraciado pelo rei D. Carlos com o título de Barão do Rio Ave6.
Em 1902 cedeu terrenos para a edificação na nova Igreja Paroquial de São Salvador de Árvore, que seria inaugurada em 19047.
Apesar de enriquecer bastante jovem, sempre se assumiu como homem da lavoura, associando-se assim maioritariamente aos ideais da esquerda do espectro político. Foi militante do Partido Progressista durante a Monarquia e, entre outros, do Partido Democrático nos primeiros anos da República. Esta sua afiliação partidária permitiu-lhe influenciar as hostes dos Governos liderados por Afonso Costa e Bernardino Machado quando, em Março de 1914, impediu a iminente anexação de Poça da Barca e Caxinas pela Póvoa de Varzim8.
Após a sua morte, a 20 de Outubro de 1931, à principal artéria de ligação entre o centro de Vila do Conde e a ponte rodoviária sobre o Ave foi dado o nome de “Rua Barão do Rio Ave”. Com a Revolução dos Cravos, a rua foi renomeada “Rua 25 de Abril”.
A liderança do legado familiar foi depositada no seu filho Bento de Sousa Amorim, presidente da Câmara Municipal de Vila do Conde em dois mandatos, entre 1946 e 1954. Em 1967, este seu filho vende a quinta ao Estado para aí se alojar a Estação Agrária distrital do Porto.
Nas propriedades dinamizadas pelo Barão do Rio Ave, foram instaladas diversas entidades ao longo das últimas décadas. O destaque vai para o Museu Agrícola de Entre Douro e Minho, inaugurado a 10 de Março de 1989 e que aqui funcionou até Junho de 2007. Recebeu uma menção honrosa atribuída pela Comissão do Prémio do Museu Europeu do Ano, em 19919.
- No Arquivo Distrital do Porto, a página do seu registo de baptismo encontra-se no final do livro de registos de casamentos.
- Arquivo Municipal de Vila do Conde – Termos de responsabilidade e fiança, livro 3115, folha 7
- Testemunho de Inês Amorim, neta do Barão e filha de Bento Amorim
- Gustavo Pereira da Silva, Armando João Dalla Costa – A formação do grupo Bunge e a sua instalação no mercado brasileiro (1818-1905)
- Relatório nº 76 da Directoria da Companhia Paulista de Estradas de Ferro para a sessão de assembleia gera em 30 de Junho de 1925
- Diário do Govêrno n.º 282/1892, Série I de 1892-12-13
- Manuel Joaquim da Costa Maia – Subsídios de Monografia de São Salvador de Árvore (1995) p.80
- Exemplo de um de vários debates parlamentares sobre este tema – Diário da Câmara dos Deputados – 51ª Sessão Ordinária – 10 de Março de 1914
- European Museum Forum – Specially Commended 1977-2019